Acabei de receber um mail de uma amiga, com este artigo de Alice Vieira, publicado no jornal "Jornal de Notícias".
Acho lindo, ainda por cima, porque reparo nestas coisas e muito me custa que estejamos a ficar um bocado americanizados, pela falta de saber traduzir o "you" por "tu" ou "você" conforme as circunstâncias...
Na América do Norte, tratam realmente todos por "You", mas isso, porque em inglês o "You" é igual na 2ª pessoa do singular e na 2ª do plural...e isso, só quem estudou sabe!!!
Cá vai o artigo:
"SENHORAS DONAS,POR FAVOR!
Cada país (cada língua, cada cultura) tem a sua maneira específica de se dirigir às pessoas. Mal passamos Vilar Formoso, logo toda a gente se trata por tu, que os espanhóis não são de etiquetas nem de salamaleques.
Mas nós não somos espanhóis.
Também não somos mexicanos, que se tratam por "Licenciado" Fulano. Nem alinhamos com os brasileiros, para quem toda a gente é "Doutor", seguido do nome próprio: Doutor Pedro, Doutor António, Doutor Wanderlei, etc..
Por cá, Doutor é seguido de apelido, e as mulheres, depois de passarem por aqueles brevíssimos segundos em que são tratadas por "Menina", passam de imediato-- sejam casadas, solteiras, viúvas ou amigadas, sejam velhas ou novas, gordas ou magras, feias ou bonitas, ricas ou pobres -à categoria de "Senhora Dona".
Mas parece que uns estranhos ventos sopraram pelas cabeças das gerações mais novas que fizeram o "dona" ir pelos ares ou ficar no tinteiro. Quando recebo daqueles telefonemas que me querem impingir tudo o que se inventou à face da terra-- desde "produtos" bancários que me garantem vida farta, até prémios que supostamente ganhei por coisas a que nunca concorri-sou logo tratada por "Senhora Alice." Respondo sempre: " trate-me por tu, se quiser; ou só pelo meu nome, se lhe apetecer; mas nunca por Senhora Alice".
Mas o cérebro destes pobrezinhos não foi formatado para encontrar resposta a estas coisas, e exclamam logo: "ah, então não é a Senhora Alice que está ao telefone!"
Eu sei que isto não é uma coisa importante, mas que é que querem, irrita-me quando oiço este tratamento dado às mulheres.
Tal como me irrita quando vejo/oiço um jornalista tratar por você alguém com o dobro da idade dele.
É uma questão de delicadeza. De respeito. E de saber falar português. Três coisas, admito, completamente fora de moda.
Pois qual não é o meu espanto quando, aqui há dias, na televisão, oiço o Senhor Primeiro Ministro referir-se assim à mulher (também odeio a palavra "esposa"?) do Comendador Manuel Violas. "A Senhora Celeste?." (não sei se é este o nome da senhora, mas adiante).
Fico parva. Nos cursos todos que tirou, ninguém lhe ensinou que as senhoras são todas "Senhoras Donas"?
Parafraseando livremente o nosso Augusto Gil,"que quem trabalha num call-center nos faça sofrer tormentos? enfim! Mas o Primeiro-Ministro, Senhor? Por que nos dás esta dor? Por que padecemos assim?"
...
Pois é Bé, Tudo isso nos foi ensinado e que bem que aprendemos! Ensinámos aos nossos filhos, mas que fazer se os próprios professores, se limitam e ensinar o programa e nada mais. Quantas vezes chamei a atenção a licenciados e não só para não dizerem " você ", mas senhora ou senhor, para não me tratarem por doutora, porque o não sou ( e mesmo assim continuam a fazêr-lo )para não dizerem prontos, mas pronto. Não adianta. Este é o povo e o país que temos. Tudo o que vem de fora é que é bom. Que fizeram aos nossos valores, ao nosso orgulho de sermos Portugueses? Pois é teremos de continuar a insistir, corrigindo-os. Eu pelo menos faço-o, quer gostem ou não.
ResponderEliminar"PRONTOS, Senhora Isabel e Senhora Lurdes". Agora, só para chatear, vou passar a tratar-vos assim. Se o Sr. Primeiro Ministro pode...
ResponderEliminarQuanto aos atropelos linguísticos, quer sejam de sintaxe, de fonética, morfológicos, léxicos ou pragmáticos, acho que já nem me vou pronunciar mais sobre o assunto.
O artigo da Alice Vieira, já o conhecia, foi publicado no "Jornal de Notícias" em 28 de Setembro de 2008, mas, infelizmente, podia ter sido agora, porque os disparates continuam os mesmos (senão a aumentar) em 2010. E, pelo andar da carruagem, preconizo que daqui para a frente ainda vai piorar.
E se a Alice Vieira viesse aos nossos blog, entao sim, muito teria que dizer...
ResponderEliminarEvolução dos tempos...quando um dia pedi a uma colaboradora da agencia onde eu estava que não tratasse os homens por Sr Antonio ou Sr João, mas sim pelo apelido (já que o hábito de Dr e Eng tinha caído em desuso na "malta" nova), a menina perguntou-me com ironia se devia tratá-los por V. Exa. como no tempo dos meus pais e avós...
ResponderEliminarNão me consigo habituar à ideia, mas nem todos têm ou tiveram a mesma educação e as influências linguísticas que nos chegam de fora são muito fortes. Novelas Brasileiras, filmes americanos, até mesmo as influências espanholas são motivo destas alterações. De facto nós pertencemos a uma geração de valores e hábitos diferentes dos actuais. E, em muitos casos, chego à conclusão que não é melhor nem pior, apenas diferente.